Monday 22 May 2017

Apendicite - O pós operatório e choque de realidade

Pedindo ajuda
Uma vez na casa da Jinny fui direto pro quarto. A Jinny me ajudou com algumas coisas. Sorte que já havia jantado e tomado banho. Fiquei no quarto e só levantava pra ir ao banheiro. Foi quando veio o choque de realidade. Eu não tinha mais a cama elevada do hospital, que eu podia controlar a altura do encosto pra facilitar me levantar. É uma cama baixa e o quarto tem pouco espaço. Deitar e levantar era extremamente doloroso.
Fora que meu quarto fica no segundo andar, então teria que subir e descer escada algumas vezes ao dia, pelo menos pra me alimentar.
Eu não tinha mais ninguém pra me dar os remédios, trocar meu curativo e responder minhas perguntas. Me sentia sozinha.
O André estava no aeroporto em Boston esperando pra embarcar pra Philadelphia. Não queria atrapalhar o trabalho dele, mas senti que eu precisava de ajuda, e ele seria a pessoa que poderia fazer isso. Mandei uma mensagem pedindo que ele viesse pra Londres. Estava me sentindo culpada, mas o sacrifício dele não seria tão grande quanto o meu passar pelos primeiros dias sozinha.
Fiquei aliviada quando às 23 chegou mensagem dele dizendo que estaria em Londres meio-dia do dia seguinte.  Tomei os remédios e fui dormir mais tranquila, apesar da dor.

Recebendo ajuda
No dia seguinte a Jinny já havia saído quando acordei. Fiquei aliviada quando vi que minha bexiga estava agora funcionando normalmente. Desci pra comer alguma coisa e vi que minha comida estava acabando. Só havia mais o suficiente pro café da manhã: pão integral e um kiwi.
Eu havia mandado email pra minha empresa avisando que seria operada, mas que achava que em 2 ou 3 dias estaria de volta. Acabou que o médico disse que precisarei de 2 semanas e me deu uma carta pra apresentar pra empresa. Mandei a carta pra empresa explicando a situação e um email pro cliente com o que estava pendente.
Fiquei na internet um pouco e não demorou voltei a dormir, Acordei logo antes do André chegar. Acho que nunca fiquei tão feliz em vê-lo na vida! Ele veio ficar comigo nesse momento de necessidade. Eu não estava mais sozinha!
Disse que estava pra embarcar e falou pro pessoal no balcão que tinha uma emergência e que precisava ir pra Londres. Tiraram a bagagem dele do vôo pra Philadelphia e ele comprou passagem pra Londres saindo naquela mesma noite. Vou reembolsá-lo pelos custos todos!
A partir daí ficou menos difícil, pois ele tem ido no super mercado, cozinhado, lavado roupa, me ajuda a levantar e sentar quando estou com muita dor, pega coisas do chão, enfim, tem sido o companheiro perfeito no pós operatório.
Os primeiros 3 dias foram bem difíceis. Sentia muita dor, às vezes não tinha apetite, uma hora me afoguei e tossir é extremamente doloroso. Fiquei com medo dos pontos estourarem, mas só manchou uma gotinha de sangue no curativo, mas como nunca passei por isso fiquei preocupada.
Meu abdômen estava super inchado devido ao ar que colocam na barriga antes da cirurgia. Li que por uma incisão eles enchem a barriga de ar pro cirurgião ter espaço pra trabalhar dentro do abdomen, por outra eles colocam uma câmera pra ele ver o que está fazendo, e pela terceira ele coloca o instrumento pra cortar e tirar o apêndice. Foram os 3 curativos no meu abdômen.
Curativos da ciurgia 

Um dos remédios pra dor é bem forte e me deixava bem grogue, com sono o tempo inteiro, formigamento nos braços, então ontem de noite, terceiro dia, parei de tomar e fiquei só com paracetamol (além do antibiótico, claro). Por isso está mais dolorido do que deveria ser, mas me sinto mais alerta.
Minha mãe e irmã, que fizeram cesárea, falaram pra eu imaginar isso, mas ainda tendo que cuidar de um bebê. Ninguém merece....
Ontem troquei os curativos e fiquei com medo de puxar o esparadrapo em cima dos pontos, mas deu tudo certo. Tomar banho é ainda um desafio, pois não posso molhar os curativos, então coloco um plástico e esparadrapo ao redor, mas mesmo assim sempre entram algumas gotas.
Minha dieta tem sido exclusiva pra pós operatório de apendicite, que eu vi na internet e confirmei com uma amiga nutricionista. Inclusive esse foi um dos problemas no hospital. Nas primeiras 24 horas diz que o certo é não comer nada sólido nem cru. Lá estava eu comendo salada e sardinha servidos por eles. Não me deram nenhuma instrução nesse sentido, e isso que eu perguntei. Acho que é pela falta de recursos mesmo.
Como bastante frutas e legumes, coisa integral e bebo água o tempo todo. As fibras e água ajudaram que meu intestino não tivesse problemas. A partir do terceiro-dia estava funcionando bem perto do normal já, o que foi um alívio.
Na real minha alimentação tem sido bem parecida com o que como todos os dias, só que sem as besteirinhas que eu como de vez em quando, como uma pipoca ou batata chips, chocolate amargo. Nada disso entrou a minha boca desde que saí do hospital (só lá dentro comi um chocolate que a Jinny tinha trazido antes de saber que não podia). Não tenho comido nada cru, até a maçã é assada, e de sobremesa gelatina pra ajudar na cicatrização.
Ontem, quarto dia, foi a primeira vez que me senti um pouco melhor. Ainda passo a maior parte do tempo deitada ou sentada, mas volta e meia levando e caminho pela casa pra ativar a circulação, mas é bem devagarinho. Queria muito ir na rua, pois o verão finalmente chegou em Londres, com dias ensolarados e 25 graus, e eu só em casa, mas não será essa semana que poderei aproveitar.

Próximos passos
Pelo que li os 7 primeiros dias são os principais. Os meus pontos vão sair sozinhos pelo que falaram. Depois vai ficando mais fácil, e dentro de 14 dias dá pra retomar a maioria das atividades do dia-a-dia. Até lá não posso levantar peso (nada acima de 4 quilos).
Volto ao trabalho na semana após a seguinte. É bom assim, pois volta e meia ainda me sinto cansada. Depois de umas 2 horas de alguma atividade (mesmo que seja receber visita) me sinto cansada e vou deitar, onde acabo dormindo por cerca de uma hora.
Estou ainda no começo da recuperação, mas a luz no fim de túnel começou a aparecer. É muito pequena ainda, mas eu, com ajuda de pessoas especiais e também divina, vou chegar lá. Vai ser sofrido ficar mais de 1 mês sem academia e depois voltar devagar, não sei se vai ficar cicatriz, não sei se vão ficar doloridas por muito tempo, não sei nada, mas espero um dia voltar a ler estes posts e pensar que foi uma experiência desagradável, mas da qual aprendi algo, e que foi totalmente superada.

Sunday 21 May 2017

Apendicite - A cirurgia e as primeiras 24 horas

A operação
Pra minha surpresa meio-dia vieram mandar eu me arrumar pra ir pra mesa de operação. Coloquei daquelas roupas de hospital e consegui caminhar até a sala de cirurgia. Ela era grande, fria, e cheia de coisas que eu não queria nem imaginar pra que servem.
Logo chegaram umas 5 pessoas, incluindo a jovem anestesista que eu havia visto antes, e começaram a se preparar. Elas iam me explicando o que estava acontecendo e o que iriam fazer, mas eu estava bem nervosa, obviamente. Alguém injetou algo no meu braço e colocou uma mascava de oxigênio em mim, e depois disso não lembro de mais nada...
Lembro de ter acordado brevemente na sala de recuperação, onde haviam duas enfermeiras. Perguntei a uma delas quanto tempo fazia que eu estava ali e ela disse meia-hora. Depois só lembro de estar de volta no meu quarto e de estar com muita dor no meu abdomen. Lembro de alguém vindo com uma seringa pra que eu tomasse o que estava nela. Depois fiquei sabendo que era morfina.

Depois da cirurgia. Nem lembro de ter batido essa foto!

Primeiras horas do pós operatório
Quando acordei de verdade já era fim de tarde. Alguém me trouxe comprimidos pra dor e me mandou tomar bastante água. Obedeci.
Vi que haviam 3 curativos no meu abdomen: 1 bem no umbigo, um na esquerda mais embaixo, e um bem embaixo na pélvis.
Levantei da cama (com dificuldade, mas levantar o encosto da cama ajudava bastante pra fazer isso) e caminhei pelo quarto um pouco. Pela primeira vez prestei mais atenção em quem mais estava lá. Na minha frente era uma senhora negra, diagonal a mim uma mulher loira relativamente jovem, e do meu lado direito, na janela, era uma mulher que parecia estar bem doente. Ela foi a única que não vi se levantar nenhuma vez, e as enfermeiras vinham trocar fralda nela de vez em quando. Em algum momento consegui ver que o corpo dela era cheio de hematomas. Ela quase não falava nada.
Caminhei até a janela e vi que era um dia bonito. A vista era pra um canal e um parque, onde haviam quadras de tênis, pessoas jogando e caminhando pelo parque, vivendo a vida normal. A mim e aos demais afetados por doenças ou circunstâncias limitadoras nos restava olhar pra fora e pensar no dia em que poderíamos fazer o mesmo.
Ás 5 horas serviram a janta. Trouxeram um menu com algumas opções e escolhi salada e uma massa com lentilhas, e gelatina de sobremesa. Estava bom, mas meio apimentado, Não comi tanto quanto gostaria pela quantidade de pimenta. Parecia comida de avião pra falar a verdade.
A mulher loira e a senhora negra estavam reclamando da comida, contando que outro dia serviram pizza com gravy, que nunca haviam visto disso.
Depois começou horário de visitação. A senhora negra teve visita de duas filhas e 3 netinhas, a loira de um cara, e a mulher quieta de um homem bem magro, que era tão excêntrico quanto ela.
Eu estava sozinha.
Quando eram 7:30 as visitas já haviam ido embora, e a Jinny foi lá me ver. Fiquei feliz de ter uma visitante, apesar de estar sofrendo ainda com a cirurgia. Meus lábios estavam ressecados, a boca totalmente seca, e eu me sentia letárgica. Fiquei conversando com a Jinny cerca de uma hora e então ela foi embora. Eu resolvi tentar ir no banheiro, pois havia me enchido de água e percebi que não tinha ido ainda.

Será que algo deu errado?
Foi quando percebi que não conseguia sentir minha bexiga. Era como se não existisse mais. Chamei a enfermeira e perguntei quando falaria com o médico, e ela disse só no dia seguinte. Expliquei a situação e minha preocupação sobre algo ter dado errado, e ela falou que se tivesse tido algum problema eles teriam informado o time de enfermagem, que não era pra eu me preocupar ainda.
Óbvio que foi impossível pensar em outra coisa a partir dali. Fiquei o tempo inteiro lendo na internet coisas que podem dar errado durante a cirurgia envolvendo a bexiga, e falando com minha irmã pelo WhatsApp. Ela conhece muitos médicos no Brasil, incluindo cirurgião, e mandou mensagem pra eles perguntando sobre isso. Falaram que é normal dar isso em crianças, mas que nas primeiras 12 horas pode ser considerado normal em adultos e que era pra aguardar.
Durante as primeiras 24 horas vinha sempre alguém da enfermaria medir minha pressão, temperatura, e aplicar antibióticos. Às vezes traziam mais comprimidos pra dor, mas não quis mais morfina. Achei horrível a sensação de estar sedada sem saber muito bem o que está acontecendo ao redor.
A noite foi chegando, e lá pelas 10 consegui que saísse um pouquinho de xixi, mas bem pouco. Aos poucos a sensação da bexiga foi voltando. Eu tinha que deitar de barriga pra cima, pois não tem como deitar de lado por causa da dor. Nessa posição a bexiga acaba pressionada, e eu sentia que estava cheia. Levantava pra ir ao banheiro e saía quase nada. Passei a noite inteira nesse ciclo de tentar dormir, levantar e tentar fazer xixi. Achei que em algum momento a conseguiria esvaziar e conseguiria dormir. Não foi o que aconteceu. Um dos enfermeiros do time noturno era italiano, e eu fiquei conversando um pouco com ele sobre a minha preocupação. Ele disse que pela experiência dele é assim mesmo, mas que no dia seguinte eu resolveria com o médico sobre o que fazer.


Falando com o médico
Todo mundo acorda cedo no hospital, e 7 da manhã já havia gente entrando e saindo do quarto. Troca o plantão de enfermeiros e eles vão de paciente em paciente explicando pro grupo novo a situação de cada um.
De café da manhã teve sucrilhos com leite, e aí comecei a notar melhora na hora de ir no banheiro. Saía mais xixi, mas mesmo assim nada de esvaziar a barriga.

Finalmente às 9:30 o médico veio me ver. Veio ele e um time de 10 outros médicos mais jovens. Perguntou se eu queria ir pra casa e falei que sim. Falou que eu poderia ir. Eu tinha várias perguntas sobre várias coisas, que eles pacientemente ouviram e responderam. A principal obviamente foi se tudo havia corrido bem na cirurgia, e ele falou que sim. Eu havia feito uma lista de perguntas no celular, que fui lendo e anotando cada resposta:
Copiado do meu celular:
Recovery- will I need help? No (acabou que sim!!)
Stitches and dressing. Dissolve
Things to raise alarm. Temperature
How long will it be painful for? A few days
Things to avoid  ( doing and eating) not to worry (não é certo isso!!)
How long time off work? 2 weeks
What type of exercise and when 1 month avoid heavy lifting
Walking up stais. Fine (nem tanto, vi que não é bom fazer isso no começo)
Difficulty passing urine
Can the thing on my arm come off?

A última coisa que falei foi sobre o problema em fazer xixi. Ele ficou pensativo e disse que iriam fazer um exame pra ver quão cheia estava minha bexiga e que esperariam pra ver se isso se resolvia antes de me mandarem pra casa. Então ele foi embora com os outros médicos todos atrás dele.
Foi só aí que avisei meus pais, depois que o pior já havia passado e quando eu teria respostas pra maioria das perguntas deles. Mandei uma foto minha no hospital e expliquei o que havia acontecido. Minha mãe disse que quase caiu de costas, e ai ficamos conversando pelo WhatsApp. Ela se ofereceu pra pegar um avião e vir cuidar de mim, mas obviamente que não aceitei. Só o que faltava minha mãe já idosa, com problemas de saúde vir até aqui cuidar de mim.

Interagindo com as outras ocupantes de quarto
Durante o resto da manhã fiquei observando as demais ocupantes do meu quarto e formando opinião baseada nas poucas horas que compartilhei do dia-a-dia delas.
A senhora negra me pareceu muito querida, assim como a sua filha que retornou pra visita-la na segunda-feira. Eu havia contado que iria fazer cirurgia de apêndice no dia anterior e ela havia dito que a filha ela já tinha feito. A filha dela então me contou sobre a experiência dela. Eram bem educadas e interessadas. A mulher loira era prestativa, ajudava a senhora negra a ler o menu todos os dias, e uma hora pegou uma coisa minha que caiu no chão e eu não conseguia me abaixar. Ela ficava saindo pra fumar o tempo todo. Tinha uma inflamação na perna e estavam aplicando antibióticos. Me contou que já esteve internada outra vez pela mesma coisa, e estava bem frustrada com sua situação de incerteza.
A mulher quieta recebeu fisioterapeutas que e ajudaram a sentar por um tempo, e depois uma pessoa do social care veio fazer um monte de perguntas pra ela sobre a vida dela em casa, se ela consegue ser independente, quem mora com ela etc. O médico veio e parece que ela tem alguma infecção no fígado que eles não sabem o que pode ser, então iam chamar um especialista. Mais tarde quele amigo excêntrico dela entrou cantando e dançando no quarto, tentando animá-la. Leu pra ela e saiu pra comprar doces pra ela,. Ela o ficava maltratando, gritando com ele sem paciência o tempo todo. Uma hora ele saiu e eu estava caminhando pelo quarto. Eu falei pra ela que aquele amigo dela parecia ser bem querido em ajuda-la e se preocupar com ela tanto assim. Ela riu e disse que sim.
Era mais um dia lindo lá fora, e eu estava olhando pela janela quando ele chegou e fez um comentário pra mim sobre com eu deveria estar lá fora e não ali. Voltei pra minha cama e vi que não demorou pra ela gritar com ele. Consegui ouvi-lo dizer baixinho pra ela que ele estava cansado de ser maltratado por ela, que ele estava tentando ajuda-la nesse momento difícil. Ela ficou quieta e depois se desculpou com ele, que ele era um bom amigo. De repente meu comentário de antes ajudou-a a ver o que ele estava fazendo por ela.

Será que fico ou que vou?
Uma enfermeira veio com uma maquininha medir quão cheia estava minha bexiga. Era tipo um mini ultrassom. Ela mediu e disse que tinha 400ml de urina ali dentro e que iríamos medir a quantidade que ia saindo ao longo do dia. Eu tinha que fazer xixi num container de papelão e dava pra enfermeira, que foi medindo ao longo do dia.
De almoço pedi sardinha com salada e gelatina de sobremesa. Parece o tipo de coisa que como em casa no dia a dia. Deu pra ver como me alimento saudável já a maior parte do tempo.
Com o passar das horas minha bexiga foi voltando ao normal, o que foi um alívio. Quando eram 3 da tarde veio um médico com sotaque leste europeu falar comigo. Perguntou como eu estava e falei que estava bem, que a bexiga estava voltando ao normal mas que ainda não estava 100%. Ele ficou pensativo e disse que fazia 24 horas da operação e sugeriu que eu ficasse no hospital mais uma noite. Não sabia o que fazer. Por um lado queria ir embora, e se eu pego uma infecção? Mas por outro
 pensei que se desse algum problema ali eu teria ajuda. Resolvi ficar mais uma noite. A senhora negra falou que era bom, pois já que eu não teria ajuda em casa pelo menos mais um dia ali seria bom pra eu me recuperar mais. Minha mãe falou a mesma coisa pelos WhatsApp.
Resolvi tomar um banho, pois não havia tomado um desde a noite que cheguei, e coloquei outra roupa de hospital. Meu uniforme desde o dia anterior era camisola de hospital, meia-verde até o joelho e chinelo.
Mais recuperada, depois de um banho

Às 5 serviram o jantar. Comi torta de ovo com salsicha e uma salada. De sobremesa mais gelatina.
Passou cerca de uma hora e veio outro médico, daquele grupo que estava com o médico de manhã. Veio perguntar como eu me sentia. Disse que eles achavam que eu deveria ir pra casa, pois estava fora de risco e que por isso não havia motivo pra eu passar mais uma noite no hospital. Disse que conversaram com os médicos chefes e que eles disseram que a bexiga estava normalizando e que logo iria estar 100% e que se tivesse problemas poderia voltar ou ver o médico do bairro. Estava sendo expulsa do hospital, de forma educada. Não tive como recusar. Comecei e arrumar minhas coisas e mandei mensagem pra Jinny pra ver se ela poderia me ajudar a ir pra casa, pois não posso pegar nada pesar e não teria como levar as coisas que ela havia trazido pra mim. Vi que a senhora negra ficou me observando arrumar minhas coisas, que reparou quando eu não consegui pegar meu tênis debaixo da cadeira. Acho que ficou com pena de mim.
O bom foi poder tirar aquele negócio do braço direito, que de tanto eu mexer já tinha saído do lugar e estava doendo.
Finalmente tirei esse negócio chato do braço

A enfermeira veio trocar meus curativos e me deu 2 sacos de remédios com instruções de horários e dose para tomá-los.
Às 19 a Jinny chegou e eu já estava na salinha de espera, fora do quarto. Dei tchau pras colegas de quarto, desejei sorte e recuperação, dei tchau pro time de enfermagem, agradeci, e fomos de táxi pra casa dela.
A cama de hospital era necessária pra alguém que precisava dela mais que eu naquele momento.


Saturday 20 May 2017

Apendicite - Sinal de que algo estava errado - Indo para o hospital

Neste post vou relatar a minha recente experiência na qual fui operada de apendicite. Eu não tenho treinamento médico algum, portanto ninguém deve usar meu post como referência para tirar dúvidas sobre o tema. Estou simplesmente contando o que aconteceu comigo.
Já faz 3 anos que eu comecei a me preocupar com isso, então eu meio que sabia que um dia teria que passar por essa operação, só não imaginei que seria numa hora tão inconveniente (apesar de que nunca teria uma hora conveniente eu acho).´

Histórico
Há 3 anos atrás eu comecei a sentir umas pontadas na parte inferior direita do abdômen, e fui no médico com medo que fosse apendicite. Eu estava morando sozinha em Londres, e estava bem nervosa com a probabilidade de ter que fazer a cirurgia e não ter ninguém pra me acompanhar e me ajudar. Eu não tinha nenhum outro sintoma característico da doença: vômito, febre, perda de apetite, e a dor não era contínua. Eram pontadas que vinham com força, mas que logo desapareciam.
Fiz exames de ultrassom e de sangue, e nada foi encontrado.
Foram passando os anos e essa dor às vezes voltava, mas nunca durava mais que um ou dois dias, mas quando vinha incomodava um pouco, apesar de não me prevenir de fazer minhas atividades do dia a dia.
O que me incomodou muito nos últimos anos e me prevenia de fazer qualquer coisa quando aparecia, era dor no estômago. Essa me deixava completamente inútil, por várias horas. Às vezes tomando buscopan e algum remédio de gases fazia a dor ir embora, mas não era sempre que funcionava. Estava ainda tentando encontrar que comida (ou combinação de comidas) que poderia causar dor abdominal de tal intensidade. Fiz vários exames, incluindo endoscopia e outros ainda menos agradáveis, pra ver se havia algo de errado, e nunca nada de errado foi encontrado (o que é bom, claro), então comecei a mudar várias coisas na minha dieta, cortei algumas coisas, introduzi outras, e por um tempo fiquei sem ter problema algum, ou quando tinha Buscopan resolvia logo.
Ainda é muito cedo pra dizer se a dor de estômago era relacionada a isso, mas se ela nunca mais voltar eu não sentirei a menor falta.

Contexto
Recentemente minha vida estava meio estressante, pois estamos de mudança. No sábado retrasado a empresa de mudança foi lá em casa empacotar tudo, e eu fiquei com 3 malas com algumas coisas pra me manter por 1 mês em Londres. Domingo viemos pra casa da nossa amiga Jinny, onde ou ficar temporariamente enquanto o André está no Estados Unidos a trabalho. A semana foi de adaptação a nova casa: localização, bairro, o quarto ( estou meio acampada, pois é um quarto pequeno, com algumas gavetas e prateleiras, mas sem guarda-roupa, então minhas coisas estão em malas pelo chão ou embaixo da cama).
Pra completar, eu fiquei doente bem no fim de semana da mudança e cheguei na casa da Jinny um caco, só queria dormir pra descansar.  Fui trabalhar durante a semana normalmente.
Sexta-feira o André embarcou pro Estados Unidos e eu só o veria dia 09 de junho pra um casamento. Estava triste por isso, mas feliz por poder descansar no fim de semana. Depois do trabalho fui caminhando de Vitoria, onde trabalho, até Blackfriars e no caminho comi um cachorro quente vegetariano alemão que tem perto de Charing Cross, que fazia tempo que não comia.

O desenrolar
Sábado acordei bem e comecei a fazer minhas atividades de fim de semana. Pelas 11 da manhã comecei a sentir a maldita dor de estômago. Estava bem fraquinha no começo, mas eu já tomei buscopan, e apesar de não estar com fome comi uma salada de almoço.
A dor começou a ficar mais forte a ponto de eu não conseguir ficar em pé ou sentada, então fui me deitar. Eu já havia tido essa dor antes, então imaginava que dentro de algumas horas ela pararia, pois foi o que aconteceu antes. Eu imaginei que havia sido o cachorro quente que causou, apesar de me parecer uma reação meio tardia a algo que eu tenha comigo às 6 da tarde do dia anterior. Eu estava me contorcendo de dor e me sentia pesada. Acabei vomitando e me senti mais leve, mas nada da dor ir embora. Tomei mais buscopan, e nada da maldita ir embora. Muito pelo contrário, ia ficando cada vez pior. Vomitei 2 vezes mais, e então entrei em contato com um médico conhecido da minha família no Brasil, via Whtsapp, e perguntei se poderia tomar mais Buscopan, pois havia vomitado e de repente por isso não estava fazendo efeito. As instruções dele foram claras: Não tome mais nada e vá imediatamente para a emergência do hospital.
Ir no hospital aqui em Londres é um saco. Tenho que ir de táxi, espera-se  MUITAS horas até se ver um médico, então eu queria saber se tinha como ver um médico sem ir pra emeregência.

NHS
O National Health System é o sistema de saúde pública aqui da Inglaterra, equivalente ao SUS. Qualquer cidadão britânico (e europeu) tem direito a tratamento gratuito, tanto em clínicas nos bairros (as cadastradas, tipo posto e saúde) quanto em hospitais. Não é perfeito, mas quebra um bom galho pra população geral, principalmente pra quem não pode pagar particular. Eu consultei particular algumas vezes, mas mesmo pra classe média tratamento particular é extremamente caro, então eu acabo usando o NHS quando preciso.
O NHS tem um serviço telefônico, onde a pessoa liga pra 111 pra saber se a situação na qual ela se encontra é grave ou não. Caso seja muito grave (tipo um acidente), liga-se pra 999, mas não era o meu caso.

Falando com um médico e conseguindo ambulância
Expliquei meus sintomas pra mulher na linha e ela disse que iria arranjar pra um médico me telefonar pra eu saber o que fazer. Eu liguei eram 15:30 e o médico me ligou cerca de 30 minutos depois. Expliquei a minha situação e ele perguntou se eu tinha diarreia. Falei que não. Ele disse que se eu tivesse diarreia era provável que fosse intoxicação alimentar, mas como eu não tinha poderia ser apendicite. Falou que eu ir pro hospital, mas expliquei que estava com tanta dor que eu não tinha como fazer isso. Ele então disse que iria mandar um médico até minha casa, mas que poderia demorar até 6 horas pra ele vir. Ele não tinha certeza que meu caso precisava de ambulância sem me examinar.
Fiquei meio desesperada, pois minha amiga não estava em casa e eu não sabia o que fazer. Liguei pra ela, que estava estudando pra uma prova importante que ela teria no domingo, e expliquei o que estava acontecendo. Ela disse que viria pra casa me levar pro hospital. Depois de uma hora uma médica veio aqui em casa e me examinou.  Ela apertou o lado inferior direito do abdomen e a dor era mil vezes pior lá.
Ela confirmou o que o médico do telefone disse, sobre possivelmente ser apendicite, e que eu deveria ir pro hospital. Pedi pra ela chamar uma ambulância, pois eu mesmo que conseguisse chegar no hospital de táxi, não teria condição nenhuma e ficar sentada esperando várias horas até ser atendida com a dor que eu estava. Ela saiu e disse que iria ver o que podia fazer. Depois de uns 15 minutos chega a minha amiga Jinny com a médica de novo. Tem um hospital há 10 min de caminhada da casa da Jinny, e a médica disse pra irmos lá mas eu não queria ir naquele estado pois estava a este ponto tremendo e com dor praticamente insuportável. Ela saiu e depois voltou falando que arrumou uma ambulância pra me levar no hospital.
A ambulância chegou em 20 minutos e me colocaram na maca. A Jinny foi junto comigo. Uma vez lá dentro mediram meus sinais vitais e me deram analgésico na veia, pois falaram que minha dor eta tão forte que tomar comprimido não iria adiantar nada. Ela colocou um negócio no meu braço direito pra aplicar medicamento, e depois de uns 3 minutos a dor havia aliviado bastante. Eu ainda sentia dor no lado direito do abdomen, mas só ao me mexer e se apertasse.
Isso fez toda a diferença, pois no hospital eu ainda tive que esperar bastante tempo até ser atendida, mas conseguia ficar sentada. Os paramédicos (um cara e uma guria australiana) foram muito queridos.

No hospital
Uma vez no hospital foi a mesma história de sempre (das outras vezes que eu fui ou que fui pra acompanhar minha mãe quando ela veio me visitar e acabou tendo que fazer cirurgia de emergência): espera-se pra passar pela triagem, onde a gente vê uma enfermeira. Nesse caso ela já tinha todos os meus detalhes, pressão etc etc, que o pessoal da ambulância e a outra médica haviam anotado, então nem sei porque tive que vê-la.
Voltei pra espera e depois de uns 40 minutos um enfermeiro me chama pra tirar sangue. Ele disse que demoraria 45 minutos pra sair os resultados e só então eu veria um médico. Demorou mais que isso, e só vi o médico depois das 9 da noite. Nisso a Jinny ali do meu lado estudando pra prova dela, e a espera ficava cada vez mais cheia de gente. Tinha gente de todo tipo. Ali éramos todos iguais, independente de background, religião, profissão.
O  médico me examinou e fez as mesmas perguntas que todos os outros médicos, e disse que eu teria que esperar pra ver um cirurgião, mas me adiantou que no exame de sangue os marcadores de inflamação estavam altos demais. Me mandou pra uma outra sala, onde tinha só das pessoas, e fiquei ali sentada esperando. Tinha duas mulheres que estavam reclamando da demora pra um dos enfermeiros, e ele falou que com os cortes de orçamento que esse maldito governo conservador fez (saúde, educação e segurança) eles simplesmente não tem pessoas suficiente pra atender, então acaba demorando mais ainda. Ele me contou que naquela hora da noite só tem um cirurgião pra todo o hospital!
Tive ainda que fazer exame de urina e só cerca de 1 hora depois veio o cirurgião. Ele repetiu todas as perguntas e eu repeti todas as respostas. Acho que a única coisa que não era típica de apendicite no meu caso é que eu estava sentindo fome. Já eram 11 da noite e eu estava com fome, e normalmente com apendicite as pessoas perdem completamente o apetite. Mas assim que ele examinou meu abdomen disse que era praticamente certeza que era apendicite e que eu precisaria ser internada.
Contei pro André, pra uma das minhas irmãs que está no Brasil, e pra outra amiga que também mora aqui perto. Assim haviam 4 pessoas que sabiam da situação, duas das quais estavam perto poderiam ajudar. Não contei pros meus pais porque só iria preocupá-los sem que pudessem fazer nada de tão longe.

Internação
Fui falar com a Jinny pra ela ir pra casa, pois eu precisaria passar a noite ali. Enquanto os médicos trabalharam pra conseguir um leito pra mim (às vezes não existem leitos disponíveis e eles precisam mandar a pessoa pra outro hospital, mas graças a Deus não foi o meu caso), eu estava no telefone com a Jinny com uma lista de coisas pra ela trazer pra mim pra eu ficar ali de noite, incluindo comida. Eu havia trazido uma calcinha e escova de dente, mas se seria operada precisaria de outras coisas, como pra tomar banho. Logo a Jinny chegou com minhas coisas e eu fiquei esperando me chamarem de novo. Vieram depois com uma cadeira de rodas e me levaram até uma outra ala do hospital.
Cheguei no quarto era uma da manhã e as 3 outras ocupantes já estavam dormindo.
Comi umas bolachas que a Jinny havia trazido, tomei banho, escovei os dentes e coloquei meu pijama. O ruim foi fazer isso sem dobrar o braço direito, que estava ainda com aquele negócio pra inserir medicamento. As enfermeiras me colocaram no soro, e fui instruída a não comer nem tomar nada após às 2 da manhã. Fiquei a noite no soro, e isso me dava vontade de ir no banheiro o tempo todo, e tinha que levar o soro junto. Era um saco.
Noite de internação

Até consegui dormir, pois a cama do hospital não era desconfortável, e eu podia ajustar a altura da cama e do encosto, coisa que foi extremamente útil depois da cirurgia. As enfermeiras me deram daquelas meias pra evitar trombose nas pernas, já que iria passar bastante tempo deitada. Eram meias verdes.
Pelas 9 da manhã o médico que havia me internado na noite anterior veio com outro médico mais velho. Eles me examinaram e o mais velho me disse que era 90% de chance de ser apendicite, e que eu precisaria ser operada. Explicou que quando a probabilidade é alta assim, o melhor é operar pra não ter risco de ruptura do apêndice, o que seria algo gravíssimo e que colocaria minha vida em risco.
Perguntei se a cirurgia seria hoje e falaram que deveria ser em torno do meio-dia.

A espera
Recentemente vi documentários sobre os maiores hospitais do NHS de Londres, e em como estão operando no limite, e como resultado muitas operações são adiadas. Mostraram o efeito negativo que isso tem nas pessoas que estão ansiosas pra fazer a operação. Os médicos ficam frustrados, os pacientes, as famílias, é algo muito ruim. Então eu fiquei pensando se a operação seria mesmo naquele dia (domingo).
Depois veio um outro médico me examinar. Disse que fariam ultrassom pra ver se não era cisto no ovário, mas eu expliquei que em fevereiro fiz todos os exames ginecológicos no Brasil e que não apontou nada de errado. Ele agradeceu e disse que nesse caso então seria mesmo cirurgia de apendicite e me falou que a cirurgia seria por laparoscopia, onde eles inserem instrumentos na minha barriga e assim não precisam fazer um corte grande no abdomen. Falaram que por eu ser magra poderia ser feito dessa forma pois a recuperação seria mais rápida.
Quando eram 11 da manhã veio uma anestesista bem jovem e um outro cara me explicar detalhes da anestesia e da cirurgia, bem como um papel pra eu assinar dizendo que eu concordava em fazer a cirurgia mesmo com os riscos. Ao ouvir os riscos por um momento dá até vontade de desistir, mas depois bate a razão e vi que não tinha outro jeito. Assinei tal papel e perguntei que horas seria a cirurgia, e me falaram que não sabiam pois ainda não sabiam se os instrumentos necessários estariam disponíveis.

Fiquei na cama lendo e resolvi não ter esperanças de que seria nesse dia.