Tuesday, 29 August 2017

Passeios e despedidas

Este é o último post do meu blog. Foram 9 anos escrevendo sobre minhas viagens durante o tempo em que morei em Londres. Pra mim, Londres é a melhor cidade do mundo! Apesar de ter um lado bem ruim, típico de cidades grandes, é o lugar mais fascinante que eu conheço. Posso ficar horas caminhando pela cidade, sem rumo, e com certeza acho um canto legal que eu não havia visitado ainda. Os museus são extraordinários, com exibições sempre interessantíssimas, limpos, obras de arte de alto calibre, e gratuitos. Já visitei os maiores várias vezes e não teria o menor problema de voltar a nenhum deles.
Meu plano é voltar a morar na Inglaterra dentro de uns anos. Me identifico muito com o país e a cultura. Me sinto em casa. Não sei se será em Londres, não sei quando será, não sei como eu estarei e como estará o Reino Unido com Brexit, mas é o lugar que eu quero chamar de casa novamente.
Não sei se alguém ainda lê isto aqui, mas caso sim espero que tenham gostado. Agora, parto pra uma nova aventura, que será documentada aqui: grazintheus.blogspot.com.br

Abaixo fotos de duas das despedidas que eu fiz, com o pessoal do meu último emprego a alguns lugares que visitei novamente antes de ir, e um vídeo dos últimos passeios que eu fiz na melhor cidade do mundo: https://youtu.be/ktBcqpH3juU



Monday, 28 August 2017

Passeio por Greenwich

Outro lugar que fazia tempo que eu não visitava era Greenwhich. Na real, acho que só estive lá uma ou duas vezes, e sempre a visita era muito corrida. Como sempre morei em West London, chegar lá demorava mais de 1 hora, e acabava com preguiça.
Da casa da Jinny até lá são cerca de 20 min de ônibus, e na segunda-feira de sol, último feriado antes do natal, eu resolvi ir lá novamente. Comecei meu passeio por um mercado vintage que tem perto da estação. Fiquei meio decepcionada, pois estava esperando algo tipo Mauerpark de Berlin, e o que encontrei foram poucos stands com poucas mercadorias.
Muito mais interessante é o mercado principal, com bastante loja legal, galerias com produtos de arte que até eu (uma pessoa que não sou de comprar essas coisas) achei legal. Vi quadros e desenhos muito legais, vi lembranças de Londres que são diferentes e bem acabadas (o contrário do que se encontra nas lojas de turistas no centro de Londres), e haviam vários stands de comida. Tinha inclusive uma de churros brasileiros, da qual passei longe (sou mais um sorvete).
Dali fui até o píer de Greenwhich, onde tem um barco bem grande que dá pra visitar, e vista pro Tâmisa. Dá pra ver de longe o O2, o lugar de shows e eventos onde assistimos Pearl Jam, Amy Schumer e nem lembro mais o que.
Ali do lado tem vários prédios imponentes e super antigos, como sempre com muita história. Eles começaram, se não me engano, lá por 1600, na época dos Tudors. Inclusive visitei o que sobrou de uma capela que havia sido construída no mesmo modelo da capela do palácio de Hampton Court (mas que agora não existe mais). Aquele complexo de prédios foi por um tempo uma escola naval, a melhor da Europa, onde gente do mundo inteiro ia treinar. Segundo a história que li, pessoas de visão convenceram a monarquia a equipar e treinar os professores com tudo o que havia de mais moderno na época. Por um tempo este lugar foi também um hospital e casa de repouso de veteranos de guerra que haviam perdido algum membro, e inclusive é possível ler sobre o dia-a-dia deles e ver como era equipado o quarto onde eles dormiam.
Depois dali fui até a Queen´s House, cuja entrada é de graça (não paguei pra entrar em nada neste dia) e fica bem na frente do parque de Greenwich. Hoje ela abriga uma coleção de arte com quadros e objetos relacionados a guerras navais e navegadores de destaque de antigamente.
Uma vez satisfeita com o que havia visto fui até o parque, que estava cheio, e procurei uma área mais alta onde me sentei pra comer minha maçã, enquanto admirava a vista pros prédios que eu havia visto, o Tâmisa e Canary Wharf ao fundo. Realmente um espetáculo de vista.

Vista de Greenwich
Eu e a Jinny no pub tomando Pims com lemonade
Fish and chips de janta

Subi até o observatório e visitei as salas que são gratuitas pra entrar, como a que tem uma coleção de um tipo de relógio que era usado pelos navegadores antigamente, e a sala com o telescópio, instrumento gigantesco que era usado pelos astrônomos pra observar o espaço. Não fazem muitos anos que o observatório principal mudou para Sussex, e quando um telescópio mais poderoso foi feito eles resolveram colocar este no museu para as pessoas admirarem o tamanho e potência de tal instrumento. As imagens que ele faz/fez da lua são impressionantes! Lá é bem onde passa o meridiano de Greenwhich, e dá pra bater foto pisando em cima da linha, mas resolvi não fazer isso.
Pra finalizar este dia, encontrei a Jinny num pub chamado The Mitre ali em Greenwhich, onde tomamos Pims com lemonade, e depois comi um fish n’ chips (pra balancear, meu almoço foi uma salada hehehe).
A noite estava muito agradável, sem vento e com temperatura amena, perfeito pra sentar em uma mesa no beergarden florido de um pub.


https://youtu.be/6Vt27TDKeHg

Saturday, 26 August 2017

Richmond Park

Neste fim de semana de feriado fiquei em Londres e aproveitei o dia magnífico de verão pra visitar Richmond Park. Eu e a Jinny saímos de casa pelas 11 e meio-dia estávamos chegando em Richmond, South West London.
Eu recomendo Richmond pra qualquer um que venha a Londres, pois é uma vila muito, mas muito charmosa, com casas pitorescas, mansões, vista linda pro Tâmisa e bons restaurantes. Nós almoçamos num chamado Pitcher & Piano, que fica bem na frente do rio e eu sempre tinha ido, apesar de ter passado na frente muitas vezes. A comida era muito boa e o preço razoável. Chegamos cedo e por isso não foi difícil conseguir uma mesa. O sol estava tão forte que logo depois do almoço nós saímos dali e fomos pra umas cadeiras que ficam na sombra de uma árvore bem grande, ao lado da ponte de Richmond, onde sentamos bem na frente do rio e ficamos people watching por um tempo.
Depois pegamos um ônibus e fomos até Richmond Park, na entrada de Roehampton Gate, pois logo ali do lado tem um lugar onde dá pra alugar bicicleta. É possível também alugar bicicleta em Richmond mesmo, entretanto já estavam todas alugadas. De repente foi pra melhor, pois eu não considero as ruas de Londres seguras para ciclistas.

Eu e a Jinny passeando por Richmond
Richmond Park

Richmond Park é enorme demais pra explorar à pé, então foi bom que conseguimos as bicicletas lá. Fomos pedalando pro lado sul, e depois viramos pra ir em direção a Isabella Plantation, uma parte do parque com flores e ponds. No caminho pra lá vimos um deer comendo. Richmond Park tem vários deles espalhados por todos os lugares.
O plano era ir também num café onde é possível comer scones e tomar chá (a coisa mais típica pra ser fazer numa tarde na Inglaterra, tanto que se chama afternoon tea), mas acabamos errando o caminho e demoramos um tempão pra chegar. Por isso só pudemos ficar cerca de 30 min lá (só tínhamos 2 horas com as bicicletas que alugamos), o que foi uma pena, pois conseguimos uma mesa com vista lindíssima pra Richmond. Estava calor demais pra tomar chá, então tomei uma diet coke bem gelada e comi um cookie apreciando a vista no tempo que deu. O parque é tão grande que duas horas passaram voando, e logo já estávamos caminhando pela região de Roehampton pra pegar o ônibus que nos levaria a Clapham Junction, e lá trocar de trem duas vezes até chegar de volta em casa.

Em 2013 passei 2 meses em Richmond morando temporariamente num lugar nada agradável, então foi bom ter voltado pra Richmond depois de tanto tempo, um lugar tão bonito e interessante, e me divertir pra ter boas lembranças deste lugar.

Thursday, 24 August 2017

Visita ao Palácio de Hampton Court

Num dia de sol agradável eu fui visitar o palácio de Hampton Court, algo que já fazia tempo que eu queria fazer. De Catford, onde estou morando, até lá demorou 2 horas, então minha visita só começou às 11 da manhã, apesar de eu ter saído de casa às 9. O ingresso é um preço meio salgado, mais de 20 libras, entretanto inclui entrada pro labirinto e pro “parque mágico”, este último somente interessante para crianças.
Este palácio é da época dos Tudors, antecessores de Henrique VIII, e inclusive conta a história de vida de Henrique VIII, de suas várias esposas, das circunstâncias que o levou a casar com cada uma, e de sua obsessão com ter pelo menos um filho homem. Tudo era pra manter a monarquia.
Foi bom eu ter estudado aquele livro de história do Reino Unido pra prova pra tirar cidadania britânica, pois muitos dos nomes e batalhas cuja história foi contada lá, às vezes em palavras, às vezes em pinturas, eu sabia do que se tratava.
Entrando no palácio
Fonte que antigamente jorrava vinho como forma de ostentação
Um dos pátios internos do palácio
Henrique VIII, provavelmente o habitante mais famoso do palácio

O palácio é bem grande, com várias áreas de interesse, e com o áudio guide a gente ia aprendendo sobre cada parte. Um dos pátios deste palácio tem uma fonte, que ao invés de água continha vinho (na época da corte, não mais
😊)A comida que era servida neste palácio naquele tempo era de tudo quanto é lugar da Europa e um dos motivos de tanta variedade era pra provar que a corte inglesa era capaz de oferecer bastante fartura. É possível visitar a cozinha do palácio e que tipo de comida era servida. Na época de Henrique VIII 80 % da comida era a base de carne. Existe também a sala onde os confeiteiros do rei (mais pra frente na história) faziam chocolate para os aristocratas beberem.
A sala de banquete real é impressionante, com teto bem elaborado e mesas longas, dando imagem de imponência e poder, justamente o que a Inglaterra queria passar para as outras nações (até hoje em dia eles são assim, pra ser bem sincera).
Visitei também os aposentos dos reis de diferentes épocas, incluindo a época de um dos Georges (por algum motivo a família real vive repetindo os nomes a cada geração, tanto que o filho do príncipe William é George, e a cada um eles aumentam o número romano depois do nome, então acaba sendo George the 3rd, ou James the 4th por exemplo). As pinturas nas paredes e no teto são impressionantes, mas o que eu mais gostei foram das tapeçarias. Eu adoro tapeçaria, e nunca vi tanta tapeçaria como estas: enormes (cobrindo paredes gigantes) e lindas, que requeriam muitas pessoas com diferentes especialidades pra trabalhar nelas.
Vidros decorados e paredes decoradas por todos os lugares

Tem uma capela interessante dentro do palácio, usada para missas ainda hoje em dia, mas o interessante é que a família real assistia a missa de uma capela elevada, que dava direto nos aposentos reais. Eles só desciam para a capela com os demais em celebrações tipo natal.
Depois de ver o palácio todo eu fui pros jardins, que são vários. Os mais bonitos estão na área do palácio onde precisa-se pagar pra entrar. Eu, pessoalmente, acho que os ingleses fazem jardins magníficos!
Na área de fora do palácio existem também vários jardins, que qualquer pessoa pode visitar sem pagar. Tem o jardim das rosas (que não estava tão bonito, mas tinha vista bonita pras chaminés do palácio na distância), tem a horta do palácio (que eles chama de jardim também), que foi criada por um dos reis pra cultivar o que seria consumido pela corte, e hoje em dia eles plantam vários tipos de vegetais que são vendidos em determinados dias de semana, tem um labirinto (que eu entrei e me arrependi, pois demorei um monte pra conseguir sair e fiquei agoniada), e outras áreas que estão mais pra parque do que pra jardim.

Jardins do palácio
Clock tower

Sentei-me num dos jardins com um sanduíche comprado no Priory Café, na sombra de uma árvore, aproveitando mais um dia de verão.

Como tudo em Londres, foi um passeio não só bonito, mas também educacional. 

https://youtu.be/CnCCFCMZl38

Sunday, 20 August 2017

De volta a Clerkenwell

No fim de junho eu tinha uns dias livres e fiz uma walking tour de Londres, sobre a qual escrevi neste blog, e mencionei que gostaria de visitar alguns dos museus pelos quais passamos no tour.

Pois foi o que fiz hoje.

Comecei pelo museu do Charterhouse (http://www.thecharterhouse.org/).

O museu em si é gratuito, mas tem também um tour pago que passa por algumas áreas internas desta construção bem antiga. Eu me contentei com o museu, que me deu informação o suficiente sobre a história deste lugar interessante. Começou como um monastério normal, onde os monges moravam e rezavam. Eles começavam o dia bem cedo, tipo 6 da manhã, mas parece que acordavam para rezas também de madrugada. Eles faziam somente duas refeições ao dia: uma de pão com sopa e depois peixe com fruta. Devem ter sido bastante magros comendo tão pouco. Depois veio Henrique VIII e começou a dissolver todos os monastérios, incluindo este. Alguns monges deste monastério tentaram resistir e acabaram sendo executados. O prédio é grande e imponente, e por um tempo foi utilizado por monarcas como a rainha Elizabeth I. O tempo foi passando, e também os monarcas, e acabou que um homem chamado Thomas Sutton comprou o prédio pelos 1600. Ele era um homem de negócios muito esperto, que começou a vida servindo a realeza, mas que acabou ficado muito rico emprestando dinheiro e cobrando juros, e comprando propriedade. Com a sua fortuna ele acabou se tornando um benfeitor e uma das coisas que ele fez foi, ao comprar esta propriedade, transformá-la em uma escola para meninos pobres e um hospital para aposentados. Na capela da Charterhouse tem uma estátua do Sutton, e ele foi lá mesmo, enterrado embaixo dela. Eu achei a capela bastante interessante, com bancos de madeira super antigos (alguns com rabiscos dos meninos que ficavam entediados de assistir a missa), tanto que o cheiro de madeira antiga e uma música sacra davam um ar bem calmo para meditação. O museu tem vários objetos da época de quando era escola, como cadeiras e mesas que os alunos usavam. Hoje em dia este lugar funciona como um asilo para homens. O critério é que sejam aposentados, solteiros, e sem condições financeiras de se manter. A caridade fundada pelo Sutton sempre teve pessoas de visão de empreendedor, que investiram o dinheiro de forma inteligente e até hoje sustentam essa caridade assim. Os habitantes de lá têm seu próprio quarto, comem num refeitório que tem lá, têm vida social na vizinhança (tem um pub ali pertinho), e quando ficam doentes tem enfermeiras(os) que cuidam deles. A escola foi transferida pra outro lugar, e agora aceita meninas também (http://www.charterhouse.org.uk).

Salas do Museum of The Order of St. John
Pelas ruas de Clerkenwell


Depois fui até o Museu do Order of St. John, que fica cerca de 5 minutos de caminhada dali. (http://museumstjohn.org.uk/).
Cheguei bem na hora que ia ter uma tour de graça, o que foi sorte. A guia nos levou pro andar de cima do prédio, onde vimos salas super antigas e bonitas. Ela nos contou como o Order of St. John começou, e a história vem desde Jerusalém, passando por Grécia e Malta, envolvendo cristãos e muçulmanos e diversas guerras. A Priory (como eles chamam uma sede de cunho religioso, em tradução livre) é uma organização de caridade a nível mundial, e a sede da Inglaterra foi criada em 1140, neste prédio que eu visitei. Anyway, Napoleão invadiu Malta e expulsou os Knights (membros desta organização), que acabaram refugiados em Roma. No museu explicam que os seus membros eram profissionais de saúde, e que eles treinavam pessoas sem qualificação, da comunidade, em primeiros socorros, e que prestaram muito serviço nas guerras mundiais. Bom, até hoje, em alguns países, esta organização continua a oferecer serviços de primeiros socorros pra população em certos eventos. Vale muito a pena visitar este museu e aprender da história, mas principalmente fazer o tour. As salas que visitamos são lindas e lá pode-se ver pinturas e móveis antigos, muitos deles de origem em Malta. Visitamos também a capela e a cripta, que ficam do outro lado da rua onde é o museu, e só se pode entrar com o guia. Bem do lado da capela fica um jardim de bonitinho e tranquilo, onde vale a pena sentar num dia agradável como hoje. Fica bem no centro de Londres, na região de Clerkenwell, e muita gente nem sabe que existe. É um dos segredos bem guardados de Londres.
Depois do tour eu fui no restaurante The Modern Pantry, que fica bem na frente da Capela, numa pracinha. Lembro que da outra vez eu fiquei olhando o restaurante e desejando ter tempo de me sentar e comer ali, e hoje fiz isso. Comi um brunch (apesar de ser 4 da tarde) e a comida era gostosa. Foi muito bom sentar ali fora no sol e comer uma refeição típica da Inglaterra.

Ao terminar de comer resolvi caminhar pelas ruas de Clerkenwell, que são charmosas e cheias de prédios de tijolinho, terminando meu passeio na estação de Angel, onde peguei o metrô pra vir pra casa.

Thursday, 17 August 2017

Cidadania Britânica - Uma conquista

Já deve ter dado pra ver que eu me identifico muito com a Inglaterra (Grã Bretanha no geral, considerando que a Escócia ainda é parte. Vai saber o que vai acontecer no futuro).
Fiquei muito, mas muito triste e decepcionada quando a maioria burra votou pro Reino Unido (UK) sair da União Européia. O futuro ficou incerto para muitos, principalmente para os cidadãos europeus que moram no UK. Tem gente que mora lá faz mais de 20 anos, que tem inclusive netos lá, com passaporte europeu, emprego, pagando imposto pra caramba, e um futuro incento. Ninguém sabe o que vai acontecer. Vão mandar todos embora? Como vão fazer isso? O que vai acontecer com os cidadãos ingleses que moram na Europa? A maioria são aposentados, que recebem aposentadoria e tratamento de saúde de graça no país europeu onde moram. Vão ser despachados de volta pro UK?
Existem centenas de argumentos de ambos os lados, mas de tudo o que eu li, eu considero uma decisão burra por diversos motivos. Se um dia eu tiver paciência eu escrevo a respeito.
Estavam falando que cidadãos europeus com mais de 5 anos de residência, que satisfizessem certos critérios, poderiam ficar no UK sem se preocupar.
Para garantir meus direitos (o que aconteceria com a seguridade social que paguei esses anos todos, perderia tudo??), em Dezembro de 2016 eu resolvi aplicar pro Permanent Residence Card, um cartão que prova que o cidadão Europeu está legalmente no UK há pelos menos 5 anos. Cidadãos de outros lugares aplicam para o IRL (Indefinite Leave to Remains), que é equivalente ao PR Card.
Fiquei 2 fins de semana juntando a documentação necessária. Precisei provar que eu tinha 5 anos de residência no UK e pra isso precisei mandar prova de que tinha emprego, prova de que paguei imposto, prova de que tinha moradia, prova de que acessava o seguro saúde, pagava contas etc etc ao longo de pelo menos 5 anos. Tinha um limite máximo do número de dias que poderia ter ficado fora do UK nestes anos, e tive que listar cada vez que entrei e saí do UK neste tempo. Este blog me ajudou muito, pois senão teria sido impossível listar todas as viagens que eu fiz pra fora só me baseando na minha memória.
Preechi um formulário de 85 páginas, paguei uma taxa de 65 libras e metade de Dezembro mandei tudo pro Home Office, órgão do governo responsável por processar este tipo de pedido. Eu não sabia se iriam provar ou não, mas no final de fevereiro chegou o Permanent Residence Card lá em casa. Fiquei super feliz, mas não ainda 100% satisfeita. Como garantir que não iriam mudar de idéia sobre os direitos de cidadãos europeus depois de Brexit? O governo estava falando que todos os 3 milhões de cidadãos europeus terão que aplicar pra um outro tipo de cartão, por um processo "mais fácil", inclusive os que já haviam adquirido este PR Card. Absolutamente ridículo ter que se submeter a isso de novo.
Eu não quis arriscar e assim que vi o meu PR eu comecei o processo de aplicar pra cidadania britânica no critério de estar morando no país pelos últimos 5 anos. Existem vários critérios a serem satisfeitos, mas um dos mais importantes é que a pessoa precisa ter o PR card por pelo menos 1 ano. Como meu período de qualificação pro PR Card foi de 2008 a 2013, o critério de ter o PR por pelo menos 1 ano foi satisfeito (pra quem qualificou só em 2017 terá que esperar 1 ano até aplicar pra cidadania).
Tive então que estudar um livro sobre a história do UK, de 180 páginas, e fazer uma prova chamada Life in the UK Test. Aprendi muita coisa legal e interessante sobre o UK, mas tive que decorar muito detalhe irrelevante. Parece que a maioria dos britânicos não passaria em tal prova. Eu ia pro trabalho e perguntava alguma das coisas do livro pros meus colegas britânicos e muitos deles não sabiam a resposta. Estudei bastante e acertei todas as perguntas da prova.
Depois fiz uma prova pra provar que tenho um certo nível de inglês. Tirei a nota máxima possível pro nível requerido para a cidadania, pois meu inglês é excelente.
O próximo passo foi, de novo, juntar documentação que eu estava empregada e morando no UK nos últimos 5 anos, com regras similares pra aplicacão do PR.
Em março, enviei toda a documentação e paguei 1500 libras no total, contanto tudo. As pessoas que eu conheço que haviam aplicado ano passado receberam resposta em até 6 semanas. Eu fui acompanhando o processo pela internet (https://www.immigrationboards.com/. Neste site as pessoas colocam as timelines dos seus processos, então dá pra ter uma idéia de quanto tempo demora), e acabou que todo mundo que aplicou em março sofreu com demora. O tempo de processamento aumentou pra 4 meses de espera!
Mas finalmente, em julho, a carta do Home Office chegou e meu pedido foi aprovado!!!
No dia 17 de Agosto realizei o último passo para completar o processo pra me tornar cidadã britânica: eu participei da cerimônia de cidadania no council de Lewisham (onde estou morando).
Cheguei no council logo depois das 10 da manhã e fui na fila pra me registrar. Tinha café, chá e biscoitos disponíveis pra quem quisesse. Ás 11 da manhã começou a cerimônia no auditório do council, onde o host ia seguindo a agenda da cerimônia.
Agenda da cerimônia

Teve um discurso rápido desejando boas vindas aos novos cidadãos e falando sobre a área de Lewisham. Haviam cerca de 50 pessoas se tornando cidadãos britânicos na minha cerimônia. Em um certo ponto, nós nos levantamos e um por um falamos o seu nome em voz alta, para depois, todos em uníssono, repetirmos um juramento e uma afirmação de ser fiel a rainha do Reino Unido e seus sucessores, e também afirmamos em respeitar as leis e modo de vida daqui.

Feito isso, um por um foi chamado para receber seu certificado de cidadão britânico. A cerimônia toda durou 1 hora. Eu poderia ter levado 3 convidados, mas não havia ninguém pra ir me assistir...
Saí de lá felicíssima! Não posso estar mais feliz de ter me tornado cidadã de um país que eu gosto tanto e admiro. Minha vida pode até me levar pra outros lugares por um tempo no futuro, mas eu escolho fazer minha vida no Reino Unido pelo tempo máximo que eu conseguir. Adoro este lugar!

Meu certificado de cidadã britânica. Muito feliz!!


Monday, 10 July 2017

A recuperação

Faz 7 semanas que fui operada de apendicite. Como eu nunca havia feito cirurgia antes, não sabia o que era normal e o que não era, então passei por muitos momentos difíceis, sem saber o que fazer. Ainda mais estando sozinha em Londres, um lugar que pode ser muito difícil de se conseguir ajudar médica. O que facilitou era que o hospital era 5 minutos de caminhada da minha casa, então das vezes que tive que ir lá eu não dependia de ninguém.
Na maioria dos países, quando se faz cirurgia assim o normal é ver o cirurgião 2 semanas após a cirurgia pra ver como está tudo e tirar dúvidas. Pois não vi cirurgião nenhum desde a cirurgia e dependi da boa vontade e generosidade de conhecidos médicos no Brasil responderem minhas dúvidas por whatsapp. Da próxima vez que eu for ao Brasil pagarei consulta particular com eles, como agradecimento.
Pelo fato de eu ter me mudado pro outro lado da cidade, não havia a menor possibilidade de ver o médico que eu sempre ia, então tive que me registrar numa outra clínica no bairro para onde eu havia me mudado. Esse processo levou uns dias (o que é normal), e além disso é difícil conseguir consulta médica logo a não ser que seja uma emergência. Só que no meu caso eu não sabia o que era pra ser preocupante ou não. Comprei um termômetro pra ver se tinha febre, o que não foi o caso (ainda bem, pois isso significaria uma inflamação), mas tirando isso o meu guia era um médico conhecido para quem eu enviava fotos dos cortes pra ele ver se estavam melhorando ou não, e ele que me ensinou a cuidar deles.
Fiz uma montagem das fotos que eu ia batendo dos cortes todos os dias pra acompanhar o progresso, e o do umbigo e o mais abaixo estavam progredindo bem, entretanto o corte do lado esquerdo foi deixado aberto. Segundo o médico conhecido, ele disse que isso chama-se fechar por segunda intenção, e por isso demoraria mais pra fechar. Me aconselhou a limpar os cortes com soro fisiológico (saline solution em inglês) e cobrir com curativo novo. O que ficou aberto não poderia ser molhado até fechar.
Esse corte me incomodou bastante, ainda mais quando um dos pontos começou a sair de dentro dele. Fui instruída a procurar um médico em Londres pra avaliar, mas quem diz que consigo consulta... Acabou que num período de 3 semanas sentei na unidade de urgência do hospital (não era a emergência, que é pra quem está com a vida em risco, mas um lugar pra quem tem problemas não urgentes, mas que demandam atenção logo) várias vezes por muitas horas, pra ver uma enfermeira ou médico. Aqui na Inglaterra as enfermeiras têm um papel de assumir bem mais responsabilidades que no Brasil. Médico só quando é mais grave mesmo.
A espera naquele hospital às vezes chegava a 4 horas. Vi pessoas com dor ter que esperar sentada daquele jeito. Ainda bem que eu não tinha dor, mas uma noite tive que esperar 2.5 horas pra ver uma enfermeira.
O atual governo da Inglaterra está realmente destruindo o sistema de saúde público de lá. É bem claro que querem privatizar tudo. Não sei que tipo de idiota quer seguir o modelo de saúde dos estados unidos... Eu não me considero uma pessoa de esquerda, mas saúde pública, pra mim, é essencial (não vou entrar no mérito de que tipo de coisas tem que ser cobertas pela saúde pública ou não).
De qualquer forma, uma primeira enfermeira que eu vi na primeira vez que eu fui tentar ser atendida me deu um mel medicinal pra passar no corte que ficou aberto, e fui fazendo isso ao longo dos dias. Ela disse pra eu ver uma enfermeira toda semana pra monitorar o progresso de fechamento. O problema é que na clínica que eu me registrei só tinha enfermeira duas vezes na semana, o que é ridículo! Além do mais, a clínica ficava 20 minutos de caminhada da casa da Jinny (era a mais perto que tinha), o que não era nada agradável pra quem mal podia caminhar. Lembro de um dia quando o tempo estava absolutamente infernal, a maior chuva e vento, trânsito parado (por isso nem arrisquei a pegar táxi), e eu caminhei até a maldita clínica pra ver uma enfermeira. Uma vez lá, não fui atendida, então tive que caminhar naquele tempo horrível até o hospital. Foi um dia absolutamente hossível e frustrante.
Na montagem das fotos dá pra ver que uma casquinha preta começou a se formar no corte que foi deixado aberto, o que era sinal de que a cicatrização estava progredindo bem, mas depois a casquinha saiu. Isso foi porque em ninguém havia me mostrado como tirar o curativo na hora de trocar de forma que não puxasse a ferida junto, e era isso que estava acontecendo. Com isso o processo demorou mais ainda! Só 5 semanas depois da cirurgia que eu descobri como fazer isso, após ter comprado curativos especiais (e caros) na internet pra conseguir tomar banho direito sem molhar. Estes curativos tinham uma redezinha que ficava em cima da ferida, e ao tirar o curativo eu podia segurar essa redezinha no lugar. Aì molhava essa redezinha e ela se soltava da ferida. Então eu limpava levemente com soro e gaze limpa e cobria com outro curativo.
3 semanas após a cirurgia era pra eu ter ido pros Estados Unidos no casamento de um amigo, e depois visitar o André em Boston, pois ele está trabalhando lá. Encontrei na internet o contato do ciurgião que fez o meu discharge do hospital e mandei email perguntando se poderia viajar, pois segundo a empresa aérea 10 dias seriam suficientes após esta cirurgia. Ele me respondeu dizendo que não era pra eu ir numa viagem tão comprida tão cedo (11 horas de avião), pois poderia ter problemas com trombose (aumentam as chances depois de uma cirurgia) ou dor no abdomen por causa do gás usado pra inflar o abdomen na cirurgia. Fiquei muito triste e chateada, ainda mais porque a empresa aéra se recusou a me reembolsar um centavo, então acabei perdendo quase 600 libras, mesmo eu tendo enviado a carta do médico e do hospital explicando que foi uma emergência. Nunca mais compro passagem com a Virgin Atlantic. Falta de humanidade, na minha opinião.
Só consegui um médico na clínica onde me registrei 1 mês depois da cirurgia (clínico geral) e fui lá com um monte de perguntas, falando das dores que eu sentia, mostrei os cortes, e ele falou que estava tudo normal e que era pra esperar. Disse que as dores iriam diminuir com o tempo.
Cerca de 1 semana depois notei que havia um ponto que estava por fora do corte do umbigo, que não havia sido absorvido. Fui no hospital de manhã bem cedo, esperei 2 horas e nada de ser atentida. Haviam pessoas lá esperando desde meia-noite pra serem atendidas. Naquele dia desisti e resolvi marcar uma consulta particular com um médico no centro (no bairro onde eu moro não tinha médico particular) pra ele tirar esse ponto, já que as clínicas não abrem no fim de semana. Consulta de 130 libras, ele viu e disse que não iria encostar, pois tinha medo que abrisse algo por dentro. Completamente inútil! Pelo menos não cobrou a consulta.
Acabei indo no NHS walk-in centre que ficava 30 min da casa da Jinny pra ver uma enfermeira. Ela tirou aquele ponto, que já estava me incomodando pois doía.
Depois disso o processo de cicatrização foi mais evidente, e agora até aquele que havia sido deixado aberto está praticamente fechado.
Entretanto ainda sinto dores às vezes, mas de bem menor intensidade e menos frequente. Ao redor da ferida que ficou aberta os músculos estão todos duros e dóem vez ou outra. Sinto que agora já posso fazer a maioria das coisas que fazia antes da cirurgia sem precisar me mexer que nem lesma.
Ainda não posso voltar pra academia, me disseram pra esperar 8 semanas, por isso por enquanto tenho feito caminhadas, mas sem forçar, pois senão esse do lado esquerdo ainda dói. Mal posso esperar pra estar 100% recuperada.
De repente este post é útil pra alguém que também tenha sido operado e queira ver sobre a experiência de outras pessoas.

Corte inferior

Corte abaixo do umbigo (fotos de cabeça para baixo)

Corte onde não foi dado ponto, o tal de segunda intenção